A relação de cada indivíduo com o dinheiro é única e molda suas decisões financeiras ao longo do tempo. Nesse contexto, as distorções na forma como avaliamos e lidamos com nossos recursos estão frequentemente relacionadas ao que é conhecido como contabilidade mental.
O Que é a Contabilidade Mental?
A contabilidade mental, ou mental accounting, é um viés comportamental estudado por Richard Thaler em 1999, que descreve os mecanismos cognitivos usados para organizar, avaliar e monitorar as atividades financeiras. Segundo esse viés, as pessoas atribuem diferentes importâncias ao dinheiro e o tratam de maneiras distintas com base em critérios como a origem dos recursos ou seu propósito.
O trabalho de Thaler nesse campo lhe rendeu o Prêmio Nobel de Economia em 2017, por sua contribuição fundamental na compreensão do comportamento das pessoas em relação ao dinheiro.
Como Funciona a Contabilidade Mental?
A contabilidade mental está ligada ao fato de que o dinheiro é fungível, ou seja, os recursos podem ser substituídos ou repostos independentemente de sua origem. Em teoria, uma quantia ganha deve ser vista da mesma forma que uma quantia equivalente recebida como salário.
No entanto, a contabilidade mental altera essa percepção. Um exemplo clássico é quando alguém mantém dinheiro em uma conta de poupança ou em casa, ao mesmo tempo que possui dívidas com altas taxas de juros, como empréstimos ou financiamentos. Nessa situação, a pessoa deixa o dinheiro inativo ou rendendo muito pouco, enquanto continua a pagar juros substanciais sobre a dívida. A abordagem mais racional seria amortizar a dívida, em vez de manter o dinheiro improdutivo.
Como Esse Viés Afeta as Decisões de Investimento?
Estudos conduzidos por Thaler mostram que as pessoas tendem a investir uma grande herança, mas optam por gastar uma herança menor. Embora ambas as heranças tenham a mesma importância em termos de investimento, o investidor tende a avaliá-las de forma relativa e pode evitar aportar quantias menores. Isso pode prejudicar o hábito de fazer investimentos regulares.
Além disso, esse comportamento pode se relacionar com outros vieses cognitivos. Um investidor que recebe R$ 1.000 em dividendos de ações e fundos imobiliários, por exemplo, pode considerar esse dinheiro como “extra” ou menos valioso do que o dinheiro economizado de seu salário. Isso pode levar o investidor a se tornar mais tolerante ao risco, investindo esse dinheiro em alternativas que ele não escolheria se fosse parte de seu salário. No entanto, todos os ganhos financeiros deveriam ser gerenciados de maneira semelhante.
Esses exemplos ilustram como a contabilidade mental pode levar a decisões financeiras menos racionais e lógicas, aumentando o potencial para assumir riscos desnecessários e sofrer perdas.
A Importância da Assessoria Financeira Personalizada
Os vieses comportamentais, como a contabilidade mental, podem afetar investidores em diferentes situações. A assessoria financeira personalizada desempenha um papel crucial na garantia de que a gestão de patrimônio, economias e investimentos esteja alinhada de forma harmoniosa. A diversificação, ou seja, não colocar todos os ovos na mesma cesta, é uma estratégia comum que ajuda a organizar as finanças e a alcançar metas de curto, médio e longo prazo.
O planejamento financeiro e o conhecimento dos conceitos financeiros, bem como a busca por orientação financeira, estão intimamente relacionados com indivíduos mais satisfeitos, bem-sucedidos e confiantes, menos propensos a serem influenciados por vieses comportamentais.
Portanto, compreender como os vieses podem afetar suas decisões financeiras é essencial, independentemente de sua experiência, tolerância ao risco ou tamanho de patrimônio. A busca por orientação financeira e a consciência desses vieses são passos importantes para tomar decisões financeiras mais informadas e racionais.